Dezenas de meios de comunicação, organizações sociais e mais de 1.300 jornalistas que escrevem em francês assinaram uma carta para desenvolver o jornalismo responsável sobre a emergência climática, informa o Laboratorio do Periodismo.

A carta, que outros países já estudam para lançá-la em seus próprios idiomas, indica que não há dúvidas e que o consenso científico é claro: o impacto das atividades humanas no ecossistema é irreversível, e “em face da absoluta urgência da situação, os jornalistas devem mudar a forma como trabalhamos e como lidamos com a informação.

A carta contém 13 pontos como recomendações:

1 – Tratar o clima, os organismos vivos e a justiça social de forma transversal.  Esses temas são inseparáveis. A ecologia não deve mais se limitar a uma única seção; deve tornar-se um prisma através do qual considerar todas as outras questões.

2 – Faça um trabalho educativo. Dados científicos relacionados a questões ecológicas são muitas vezes complexos. É necessário explicar magnitudes e escalas de tempo, identificar relações de causa e efeito e fornecer elementos de comparação.

3 – Escolha bem o léxico e as imagens. Escolher as palavras certas para descrever com precisão os eventos e transmitir a urgência é crucial. Evite imagens planas e expressões fáceis que distorcem e minimizam a gravidade da situação.

4 – Ampliar o tratamento das questões e não apenas devolver as pessoas à sua responsabilidade individual, pois a maioria dos transtornos ocorre em nível sistêmico e exige respostas políticas.

5 – Investigar as origens das crises atuais. Questionar o modelo de crescimento e seus atores econômicos, financeiros e políticos, e seu papel decisivo na crise ecológica. Tenha em mente que as considerações de curto prazo podem ser contrárias aos interesses da humanidade e da natureza.

6 – Garanta a transparência. A desconfiança da mídia e a divulgação de informações falsas que relativizam os fatos “obrigam-nos a identificar cuidadosamente as informações e os especialistas citados, mostrar claramente as fontes e revelar possíveis conflitos de interesse”, afirma a carta.

7 – Revelar as estratégias desenhadas para semear dúvidas na mente do público. Certos interesses econômicos e políticos trabalham ativamente para construir declarações que iludem a compreensão dos problemas e atrasam a ação necessária para a tomada de decisões, aponta a carta.

8 – Relatório sobre as respostas à crise. Investigar com rigor as formas de agir diante dos problemas climáticos e da vida, qualquer que seja sua escala de aplicação. Questione as soluções apresentadas.

9 – Formação contínua de jornalistas. Para ter uma visão global das convulsões em curso e o que elas significam para nossas sociedades, os jornalistas devem ser capazes de treinar ao longo de suas carreiras. Este direito é fundamental para a qualidade do processamento da informação: todos podem exigir que seu meio de comunicação ou empregador os treine em questões ecológicas.

10 – Opor-se ao financiamento das atividades mais poluentes. Para garantir a consistência no tratamento editorial das questões climáticas, os jornalistas têm o direito de expressar sua discordância sem medo em relação ao financiamento, publicidade e associações de mídia vinculadas a atividades que considerem prejudiciais.

11 – Consolidar a independência editorial. Para garantir uma informação livre de pressão, é importante garantir a autonomia editorial dos donos da mídia.

12 – Pratique jornalismo de baixo carbono. Dê o exemplo e aja para reduzir a pegada ecológica das atividades jornalísticas, principalmente usando ferramentas menos poluentes, sem se desvincular do trabalho de campo necessário. Incentivar as redações a favorecer o uso de jornalistas locais.

13 – Cultive a cooperação. Participe de um ecossistema midiático solidário e defenda conjuntamente uma prática jornalística preocupada com a preservação das boas condições de vida na Terra.

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