O GLOBO – 25/10/2018

O diretor executivo da Apple, Tim Cook, afirmou ontem que as empresas estão transformando os dados de clientes em “armamento de guerra”, a fim de aumentar seus lucros. Cook, que participou da Conferência Internacional de Proteção de Dados e Comissários de Privacidade, em Bruxelas, elogiou a Lei Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), da União Europeia, que entrou em vigor em maio.

Questões sobre como os dados são usados e como os consumidores podem proteger suas informações pessoais estão sob os holofotes depois de escândalos envolvendo vazamento de dados de milhões de usuários de internet e redes sociais no mundo.

—O desejo de colocar os lucrosacimadaprivacidadenão é novidade —afirmou Cook.

Ele citou o ex-juiz da Suprema Corte americana Louis Brandeis, que, em 1890, na revista Harvard Law Review, alertou que a fofoca não era mais o recurso dos ociosos, mas se tornara um comércio.

— Atualmente, esse comércio explodiu em um complexo industrial de dados. Nossas informações, sejam assuntos do cotidiano ou questões profundamente pessoais, estão sendo transformadas em armamento de guerra contra nós, e com eficiência militar —disse Cook. —Esses fragmentos de dados são cuidadosamente montados, sintetizados, agrupados e vendidos.

Segundo o diretor executivo da Apple, os algoritmos estão transformando preferências inofensivas em convicções endurecidas:

— Se o verde é a sua cor favorita, você pode ler muitas reportagens, ou ver vídeos, sobre a ameaça insidiosa de pessoas que gostam de laranja — disse ele. — Não podemos minimizar as consequências. Isso é vigilância. E esse estoque de dados pessoais serve apenas para enriquecer as empresas que os coletam.

Cook alertou ainda sobre os governos que abusam dos dados dos usuários, uma preocupação para muitas pessoas, principalmente em período de eleições:

— Plataformas e algoritmos que prometeram melhorar nossas vidas podem realmente ampliar nossas piores tendências humanas — disse. —Pessoas desonestas e até governos se aproveitaram da confiança do usuário para aprofundar as divisões, incitar a violência e minar nosso senso comum do que é verdadeiro e do que é falso.