O GLOBO – 25/10/2018

HENRIQUE GOMES BATISTA

O envio de diversos artefatos explosivos de fabricação caseira a nomes proeminentes do Partido Democrata, como o ex-presidente Barack Obama e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, e a personalidades e instituições identificadas como progressistas, como a CNN, colocou os Estados Unidos em alerta ontem. O presidente Donald Trump condenou o ato, prometeu investigação e pediu união aos americanos. Andrew Cuomo, governador de Nova York que tentará se reeleger em novembro —e é potencial candidato à Presidência em 2020— chamou a ação, amenos de duas semanas das eleições legislativas, de “terrorismo político”.

A polícia ainda não tem resposta para uma série de questões sobre estes artefatos. Não se sabe, por exemplo, quem os enviou, qual a motivação, se poderiam de fato explodir e qual serias eu potencial de destruição. Segundo informações preliminares, os dispositivos eram feitos com um cano selado contendo material explosivo dentro e, numa das extremidades, um equipamento que se assemelha a um timer que poderias e rum detonador. Os artefatos mediam cerca de 15 centímetros e estavam envolvidos em fita adesiva preta.

O Serviço Secreto informou em nota como foram localizadas as bombas endereçadas a Hillary e Obama: “Os pacotes foram imediatamente identificados em procedimentos rotineiros de triagem de correio como potenciais dispositivos explosivos e foram adequadamente tratados como tal ”. Segundo anota, eles“não receberam os pacotes nem correr amorisco de recebê-los ”.

ORIGEM ÚNICA, VÁRIOS ALVOS

As cartas com os artefatos continham diversos selos, oque seria um indicativo de que foram despachadas em caixas de coleta em locais públicos, e não diretamente em agências postais. Mas o FBI( a polícia federal americana) acredita que há uma única origem por trás de todos estes envios.

Ao menos seis artefatos explosivosou suspeitos foram interceptados pela polícia americana. O primeiro foidirec iona doà casado bilionário George Soros, nase gunda-feira, nos subúrbios de Nova York. Ontem foi divulgado que artefatos semelhantes foram enviados à residência de Hillary Clinton, também no estado de Nova York, e ao escritório político de Barack Obama.

N amanhã de ontem, apresentadores da CNN anunciaram em tempo real que o escritório da emissora em Nova York —considerada “inimiga” e difusora de “fake news” pelo presidente Trump — estava sendo evacuado por causa de um pacote suspeito. As transmissões seguiram ao vivo das ruas em frente ao prédio da Time Warner na cidade. A polícia depois confirmou que havia de fato explosivo no artefato. A CNN informou que o pacote que recebeu era endereçado a John Brennan, que foi diretor da CIA no governo Obam aeé comentarista( crítico a Trump)con vidado com frequência pelo canal. Segundo o vice-comissário de Inteligência e Contraterrorismo da polícia de Nova York, John Mil ler ,“algum ti pode pó” também foi encontrado no pacote e está sendo testado.

Mais duas lideranças políticas identificadas com o Partido Democrata foram destinatárias de pacotes com bombas: o procurador-geral do governo Barack Obama, Eric Holder, e a deputada Maxine Waters, da Califórnia. O pacote de Holders, porém, tinha o endereço errado e por isso foi reenviado pelo serviço de correios para o endereço que constava como sendo o de sua remetente —o da congressista democrata Debbie Wasserman Schultz, da Flórida. Um anotado FBI os descreveu como “artefatos potencialmente destrutivos”.

Em Washington, o presidente DonaldTrumpch amou o episódio de “ato desprezível”, afirmando que há uma grande investigação em andamento.

—Temosquenosunir—disse Trump. — Ameaças de violência política de qualquer tipo não têm lugar nos EUA.

O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, definiu as ações como terrorismo:

—Este é claramente um ato de terror, uma tentativa de minar nossa liberdade de imprensa e os líderes deste país por meio de atos de violência.

Falsos alertas foram noticiados em todos os EUA, mas nenhumoutro caso foi confirmado até anoite de ontem. A CNN chegou a noticiar que um pacote suspeito foi enviado à Casa Branca, mas as autoridades desmentiram. Os seis casos confirmados têm em comum o fato de seus destinatárias serem oponentes do governo atual. Obama, Hillary, Sorose CNN são alvosfrequ entes de ataques políticos da direita, muitos lançados pelo próprio Trump, que costuma chamar grandes grupos de mídia(àexceçã oda FoxNews) de “inimigos do povo”.

PRESIDENTE CRITICA MÍDIA

Um porta-voz da família Obama não quis comentar sobre a localização do clã. O presidente da CNN, Jeff Zucker, disse que há“total falta de compreensão” na Casa Branca sobrea gravidade de seus ataques à mídia. Já no Congresso, líderes criticaram o pedido de Trump por “união” após os casos. “Várias vezes o presidente aceitou a violência e dividiu os americanos com suas palavras e ações”, escreveram em nota os líderes democratas do Senado, ChuckS chu mer,enaCâ mara, Nancy Pelo si.

À noite, num comício em Wisconsin, Trump devolveu as críticas e acusou seus oponentes e a mídia pelo clima de confronto no país.

Estes episódios devem impactar nas eleições de novembro. Pesquisas indicam que há boas chances de os democratas reconquistarem a maioria da Câmara.Trump vinha pessoalmenteenvolvidona disputa e tentava mobilizar eleitores republicanos explorando o medo da imigração.