O GLOBO – 25/10/2018
HENRIQUE GOMES BATISTA
A série de artefatos explosivos enviados a personalidades identificadas como críticas ao presidente Donald Trump, além de colocar a população em alerta, gerou um importante fato novo a menos de duas semanas das eleições legislativas do próximo dia 6 de novembro. Para o cientista político David Schultz, professor da Universidade Hamline (Minnesota), o impacto de tais ameaças, classificadas por alguns como “atos de terror”, tende a ser maior que o da caravana de imigrantes da América Central, assunto que estava até então mobilizando os republicanos. Segundo Schultz, agora, esta nova fase de “medo” pode acabar beneficiando os candidatos democratas.
O episódio das bombas pode ter impacto nas eleições legislativas de novembro?
Sim, tem o potencial de engajar mais eleitores que se identificam como democratas e os independentes que possam a ver estes artefatos como uma tentativa de intimidação, uma ameaça à democracia. O que mais mobiliza as pessoas eleitoralmente é a emoção, e o medo é provavelmente o mais poderoso dos sentimentos na política.
Mas Trump já estava tentando convencer seus eleitores com o discurso do medo dos imigrantes, usando o assunto da caravana de centro-americanos que se dirige à fronteira com o México…
Sim, esta eleição está sendo marcada pelo discurso do medo dos dois lados. Republicanos explorando o medo dos imigrantes, e democratas, o medo a Trump —e agora o medo de que a democracia esteja ameaçada. Como Trump teve um discurso de divisão, de ódio, cairá sobre ele e sobre os republicanos este episódio, mesmo que eles não tenham relação com o caso, claro. O fato é que o medo se tornou um tema central das eleições de 2018.
Mas qual dos temas devem se sobrepor? O medo dos imigrantes ou o das bombas?
Acredito que o caso do envio destas bombas caseiras tende a ter um impacto maior, por envolver uma questão de segurança nacional. Deve se manter mais no noticiário e impactar mais os eleitores, sobretudo os independentes, do que a caravana dos imigrantes.
Assim os democratas tendem a ser beneficiados?
Potencialmente sim. Já vimos que neste ano há uma tendência de participação de eleitores democratas muito maior que em 2016, principalmente pelo maior envolvimento de mulheres dos subúrbios. Este episódio deve intensificar isso, ampliar a participação dos eleitores democratas.