O GLOBO – 26/10/2018

HENRIQUE GOMES BATISTA

A polícia americana informou ontem que ao menos três novos artefatos explosivos foram interceptados quando eram enviados por correio a críticos do presidente Donald Trump. O total de pacotes com bombas caseiras já encontrados, assim, chega a dez nesta semana. Autoridades não descartam que mais pacotes suspeitos estejam em circulação no país e ainda não divulgaram pistas sobre os supostos culpados. Enquantoisso,adisputapolítica não dá trégua, e os EUA ficam longe da unidade que costuma emergir em momentos de ameaças terroristas.


Ontem, o FBI informou que dois pacotes com artefatos explosivos haviam sido enviados ao ex-vice-presidente Joe Biden, em Delaware, e à produtora do ator Robert De Niro, em Nova York.

Ambos são críticos aos republicanos e a Trump, assim como os demais alvos de bombas caseiras: o ex-presidente Barack Obama; a ex-secretária de Estado Hillary Clinton; o bilionário George Soros; a deputada Maxine Waters (dois pacotes, um na Califórnia e outro em Maryland); o exprocurador-geral (ministro da Justiça) do governo Obama, Eric Holder; e John Brennan, ex-diretor da CIA no governo Obama e comentarista da CNN, cujo pacote foi enviado ao escritório nova-iorquino da emissora, rede de notícias classificada como “inimiga” por Donald Trump.

Autoridades disseram ontem que todos os pacotes têm características similares: envelopes pardos com interior

em plástico bolha, seis selos em cada envelope, etiquetas de endereço impresso em computador com palavras incorretas, e um endereço de retorno pertencente ao escritório (na Flórida) da deputada democrata Debbie Wasserman Schultz — que não está entre os suspeitos. Em alguns dos dispositivos, há a presença de uma substância sulfúrica, que poderia ter explodido.

INVESTIGAÇÃO NACIONAL

Fontes próximas à investigação disseram ao “New York Times” que, por enquanto, suspeita-se que alguns dos explosivos tenham sido enviados do Sul da Flórida. Mas o FBI não confirma esta informação e adverte que está ocorrendo uma investigação nacional em vários estados para o que é visto como “terrorismo político”.

Apesar de autoridades pedirem calma e união — entre eles, o presidente —o clima foi de disputa política, diferentemente do que ocorre quando a segurança do país é ameaçada. Em parte, responsabiliza-se a postura de Trump. Ontem, ele voltou a atacar a imprensa e, no Twitter, disse que a “raiva” da sociedade é causada pelas “fake news”. Democratas, então, partiram para o ataque:

— O presidente deveria assumir a responsabilidade pelo tipo de violência que estamos vendo pela primeira vez —disse a deputada Maxine Waters, alvo de duas bombas.

A 12 dias das eleições legislativas, o episódio está sendo exploradoporambosospartidos. Alguns grupos de extrema direitatentamdifundiraideiade que os democratas estariam aplicando um “autogolpe” paracriaramovimentaçãopolítica às vésperas das eleições.