O ESTADO DE S.PAULO – 27/10/2018

O FBI prendeu ontem o americano Cesar Sayoc, de 56 anos, suspeito de enviar 13 pacotes com bombas para pessoas ligadas ao Partido Democrata e críticos do presidente americano, Donald Trump. Ele foi indiciado por cinco crimes e poderá pegar até 48 anos de prisão, segundo o secretário de Justiça, Jeff Sessions. Segundo autoridades americanas, todos os pacotes levavam explosivos e foram enviados da Flórida.


As acusações contra Sayoc incluem transporte interestadual de explosivo, envio de explosivos, ameaça contra um ex-presidente e ameaça às comunicações entre Estados, de acordo com Sessions. Mesmo com a prisão de ontem, novos pacotes com bombas continuaram a ser encontrados pelo país.

Um deles, detectado na Flórida, foi enviado ao senador Cory Booker, democrata de New Jersey. Outro, descoberto em uma agência dos correios em Manhattan, foi postado para a sede da CNN em Nova York, endereçado a James Clapper, ex-diretor de Inteligência Nacional. Um terceiro pacote foi interceptado antes de chegar à senadora Kamala Harris, democrata da Califórnia.

O diretor do FBI, Christopher Wray, confirmou que, desde segunda-feira, foram interceptados 13 artefatos no total. Nenhum deles, segundo Wray, era “falso”. “Eram potencialmente explosivos, enviados pelo correio a diferentes pessoas nos EUA”, disse. Ele advertiu que poderia haver mais em circulação e pediu à população que ficasse em alerta.

Todos os pacotes incluíam um tubo plástico, um pequeno relógio, uma bateria e fios. O material explosivo poderia ser detonado por calor, choque ou fricção, segundo os investigadores. Wray ressaltou que ainda era “cedo para falar sobre os motivos” do suspeito detido, um republicano registrado na Flórida. “Ficamos preocupados que sejam cometidos atos de violência por qualquer motivo”, disse o chefe do FBI.

Os agentes que levaram Sayoc sob custódia em Plantation, cidade próxima de Fort Lauderdale, também apreenderam uma van branca repleta de adesivos pró-Trump, o slogan “A CNN fede” e imagens de figuras democratas com miras vermelhas nos rostos. Os alvos da série de pacotes-bomba são todos democratas proeminentes, destacados críticos de Trump ou alvos frequentes nos discursos do presidente.

Pistas. As digitais de Sayoc foram encontradas em pelo menos um dos pacotes, enviado à congressista democrata Maxine Waters, segundo Wray. Também foram recolhidas amostras de DNA que ligavam o acusado aos pacotes. Os investigadores também descobriram nas redes sociais mensagens extremistas postadas por Sayoc.

Ao anunciar na Casa Branca a prisão feita pelo FBI, Trump disse que tais “atos aterrorizantes” são desprezíveis e não têm lugar nos EUA. “Jamais devemos permitir que a violência política se enraíze na América – não podemos deixar que aconteça”, disse. “E estou comprometido a fazer tudo em meu poder, como presidente, para impedir que isso ocorra.”

De acordo com registros policiais, Sayoc, um ex-stripper, foi preso nove vezes ao longo dos anos, uma delas acusado de fazer uma ameaça de bomba. Ninguém assumiu a responsabilidade pelos pacotes-bomba enviados ao ex-presidente Barack Obama e outros, o que as autoridades descreveram como um ato de terrorismo. O episódio ocorreu a menos de uma quinzena de eleições parlamentares que podem alterar o equilíbrio de poder em Washington.

 

Ex-stripper solitário com passagens pela polícia

    O Estado de S. Paulo27 Oct 2018MIAMI suspeito de enviar explosivos AP /

AFP
Passado. Sayoc ficou um ano em liberdade vigiada

Cesar Sayoc, de 56 anos, é descrito por conhecidos como um solitário perturbado que demonstrava pouco interesse em política antes do surgimento do presidente Donald Trump. Morador de Aventura, na Flórida, ele é um fisiculturista amador e ex-stripper. Sayoc tem um histórico de problemas financeiros e várias prisões no passado, incluindo liberdade vigiada por fazer ameaças com bombas.

Nascido na cidade de Nova York, frequentou o colégio na Carolina do Norte, antes de se mudar para o subúrbio de Miami, no fim dos anos 80. Os registros eleitorais da Flórida mostram que ele se inscreveu como republicano em março de 2016, ano em que também se registrou para votar nas eleições presidenciais.

Os perfis nas redes sociais de Sayoc estão lotados de memes de apoio a Trump, criticando democratas e promovendo teorias conspiratórias sobre George Soros, o doador bilionário que se tornou alvo do primeiro pacote com explosivos enviados por ele.

Na loja de peças automotivas em Plantation, na Flórida, onde Sayoc foi preso, autoridades guincharam uma van branca coberta de adesivos em apoio a Trump e criticando veículos de mídia como a CNN, outro alvo de seus pacotes com explosivos.

“Eu sei que o cara é um lunático. Ele é um solitário”, disse Lenny Altieri, primo de Sayoc, à agência Associated Press, confirmando que Sayoc trabalhou como stripper.

Registros judiciários na Flórida mostram que Sayoc foi preso em 2002 e ficou um ano em liberdade vigiada pela acusação criminal de ameaçar usar bombas. As informações disponíveis na internet não fornecem detalhes, mas seu advogado, Ronald Lowy, relatou à AP que, na ocasião, ele se envolveu em uma discussão tensa com uma pessoa.

O advogado explicou que, frustrado com a falta de energia elétrica, Sayoc disse ao funcionário da companhia que ele resolveria o problema imediatamente se ele lhe “jogasse uma bomba”. Em junho, em uma conta no Twitter associada a Sayoc, foi postada uma mensagem de aniversário a Trump, dizendo: “Feliz aniversário, Donald Trump, o maior presidente já eleito”.