O GLOBO – 12/03/2019

SÉRGIO MATSUURA

De uma página com alguns hyperlinks hospedada em um computador da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern, pela sigla em francês), a World Wide Web se transformou na face mais conhecida da internet. São milhões de serviços, de bancos e sites de notícias a redes sociais. Hoje, a www — ou simplesmente web —completa 30 anos. E precisa resolver alguns problemas, afirma seu criador, o físico britânico Tim Berners-Lee.

“Hoje, 30 anos após minha proposta original para um sistema de gerenciamento de informações, metade do mundo está on-line. É um momento para celebrar até onde nós chegamos, mas também uma oportunidade para refletir aonde ainda queremos chegar”, afirmou Berners-Lee em carta divulgada especialmente para a ocasião. “A cada novo website, a distância entre aqueles que estão on-line e aqueles que não estão aumenta, tornando ainda mais imperativo fazer a web acessível para todos”.

Berners-Lee pondera que a web abriu oportunidades, deu voz a grupos marginalizados e tornou o dia a dia mais fácil. Mas também “criou oportunidades para golpistas, deu voz a quem espalha o ódio”.

Na carta, Berners-Lee destaca três disfunções que precisam ser consertadas: ações maliciosas deliberadas e intencionais, como ataques de hackers, comportamento criminoso e assédio on-line; o sistema de “incentivos perversos”, como os negócios baseados em anúncios “caça-clique” e a disseminação de informações falsas; e o tom “ultrajado e polarizado” e a qualidade dos discursos on-line.

“Embora a primeira categoria seja impossível de erradicar completamente, podemos criar leis e códigos para minimizar esse comportamento, como sempre fizemos off-line. A segunda categoria nos obriga a redesenhar os modelos de negócio para mudar os incentivos. E a categoria final exige pesquisas para entender os sistemas existentes e modelar novos possíveis sistemas, ou ajustar os que temos”, recomenda.

Para isso, Berners-Lee defende um Contrato para a Web, com a participação de governos, empresas e cidadãos. Os governos ficariam encarregados de leis e regulações para a era digital, garantindo a competitividade e a inovação e protegendo os direitos das pessoas. As empresas devem garantir que a busca pelo lucro não deixe de lado os direitos humanos, a democracia, a ciência e a segurança. Já os cidadãos têm de cobrar esses compromissos de governos e empresas.

O Contrato para a Web, segundo Berners-Lee, representa “nossa passagem da adolescência digital para um futuro mais maduro, responsável e inclusivo”.

Resolver esses problemas é crucial para o futuro da web. Luís Felipe de Moraes, professor da Coppe/UFRJ, ressalta que estamos vivendo a expansão da internet das coisas:

—A escala da rede vai passar de bilhões de objetos conectados para dezenas, centenas de bilhões ou até trilhões.

Reinaldo Ferraz, especialista em Desenvolvimento Web do Ceweb.br e do W3C Brasil (parte do Comitê Gestor da Internet), diz que a web logo “estará em todas as coisas, mesmo que a gente não veja”.