O ESTADO DE S.PAULO
A confiabilidade das urnas eletrônicas é o alvo principal das peças de desinformação que circulam nas redes sociais sobre as eleições deste ano. As postagens virais desmentidas pelo Estadão Verifica também tiram de contexto decisões de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma tática observada é o resgate de boatos que viralizaram durante a campanha de 2018. Uma delas divulgava uma ação no TSE sobre suposta “fraude” na eleição daquele ano. Na verdade, a denúncia se baseava em imagens de televisão com a contagem em tempo real dos votos para presidente. O Tribunal arquivou o processo por ele ter sido “construído sobre fatos que não possuem base sólida, sobre confusões ou sobre inverdades”.
Outra peça tira de contexto uma notícia de 2013 sobre a aposentadoria de urnas brasileiras utilizadas pelo Paraguai. Postagens no Facebook não deixaram claro que o equipamento emprestado pelo governo brasileiro ao país vizinho já estava defasado tecnologicamente, e não voltou a ser utilizado em votações no Brasil.
As urnas eletrônicas também foram atacadas em peças de desinformação que tentaram ligar o equipamento a países de pouca tradição democrática. Um boato desmentido pelo Estadão Verifica dizia que apenas Brasil, Venezuela e Cuba adotam o voto eletrônico. A informação é falsa: outros 13 países, além de Brasil e Venezuela, utilizam urnas eletrônicas.
Outro alvo de boatos sobre as eleições é o Judiciário. É o caso de uma postagem dizendo que o TSE havia liberado as candidaturas de políticos com a ficha suja. Na realidade, o que o Tribunal decidiu foi que, com o adiamento da data da votação, candidatos enquadrados na Lei da Ficha Limpa há oito anos poderiam concorrer.
Outra decisão, desta vez do STF, também entrou na mira. Um tuíte alegava que o Supremo considerou ilegal o voto impresso, tirando de contexto um julgamento sobre a reforma eleitoral de 2015, em que ministros decidiram ser inconstitucional a impressão de um comprovante do voto logo após o registro do eleitor – não o voto em si.
Negócio. Observadores internacionais veem uma tendência de monetização de vídeos no Youtube que espalham informações falsas ou sem embasamento sobre o processo eleitoral. A diretora associada da International Fact-checking Network (IFCN), Cristina Tardáguila, disse que alguns usuários vendem produtos em seus canais e, para ganhar tração, publicam vídeos que se aproveitam da polarização para atrair cliques. “O dono da conta ganha audiência e também monetiza seus vídeos. O ataque às instituições virou um negócio no Youtube.”
Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, coalizão de 36 veículos que checam peças de desinformação nas redes sociais, da qual o Estadão Verifica faz parte, notou que o volume de desinformação compartilhada pelo Whatsapp diminuiu, se comparado com 2018. Lüdtke indicou que agora há uma tendência do surgimento de sites que utilizam a narrativa noticiosa para espalhar conteúdo enviesado e desinformação.