FOLHA DE S.PAULO
Maggie Haberman, a repórter que começou cobrindo Trump no New York Post e prossegue no New York Times mais de duas décadas depois, tuitou no início da noite: “A Fox News acaba de anunciar Michigan para Trump”.
Correu a corrigir, “com profundas desculpas”, dizendo que tinha sido “para Biden”. Após Arizona na noite de terça e depois Wisconsin, a Fox News estava perto de proclamar a vitória democrata.
Minutos depois, também no Twitter, o presidente dos EUA anunciava, “para fins de Voto Eleitoral”, que tinha vencido Michigan. E a plataforma entrou então com o alerta de que “alguns ou todos os conteúdos neste tweet podem ter informações incorretas”.
Mas o confronto não estava se dando no Twitter. A expectativa maior era pela própria Fox News. Não a cobertura jornalística, inclusive projeções, mas os programas de opinião que retornaram na quarta após saltar o dia da eleição.
Sobre a cobertura, ela entrava de tempos em tempos, com destaque a republicanos como Chris Christie, contrário à estratégia de Trump de ir à Justiça, e se permitindo até ironizar o presidente. Chegou a sair de transmissão de Rudy Giuliani, seu advogado.
O primeiro programa de opinião a entrar foi The Five, cujos apresentadores se concentraram em atacar “os perdedores: as pesquisas e a mídia”, mas respeitaram o próprio canal e suas projeções.
O programa de Tucker Carlson foi na mesma linha, evitando questionar diretamente os números da Fox News e se fixando nos democratas e na mídia.
Sean Hannity, que de tão próximo chegou a fazer campanha por Trump, foi quem mais arriscou, pondo em dúvida a projeção sobre o Arizona com números que recebeu da equipe republicana.
NEM MURDOCH
Já havia sido assim, no meio da noite, quando a Fox News anunciou o Arizona para Biden e depois resistiu à pressão da Casa Branca.
Segundo o NYT, Jared Kushner, genro e assessor de Trump, ligou para Rupert Murdoch, dono da Fox News, sem sucesso no pedido para voltar atrás sobre o Arizona. Segundo a Vanity Fair, o próprio Trump ligou, também sem sucesso.
E na madrugada, quando Trump proclamou pela primeira vez sua vitória, o âncora Chris Wallace já havia criticado a intervenção “extremamente inflamatória”, em tom semelhante àquele de CNN, MSNBC e outros.
FOX-DEPENDENTE
Para jornalistas como Ezra Klein, do Vox, “a questão-chave não é se Trump contesta o resultado, mas se a Fox News o contesta, e até aqui eles não” o fizeram. Para Ben Smith, colunista de mídia do NYT, as denúncias de Trump “não têm para onde ir sem a Fox”.
ORDEM UNIDA
O Wall Street Journal, também de Murdoch, se juntou ao canal na resistência, evitando destaque às ameaças judiciais de Trump. E bancando os resultados, como na manchete “Michigan e Wisconsin são anunciados para Biden e o caminho de Trump se fecha”, no início da noite de quarta, além do Arizona.
BERNIE AVISOU
O vídeo de uma entrevista de Bernie Sanders para o programa The Tonight Show (acima) viralizou uma semana e meia após ser publicado, com o senador detalhando como seria a tentativa da campanha de Trump de inviabilizar vitórias de Biden em estados como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.
Foi parar no alto do Drudge Report, “Assista: Bernie estava certo, palavra por palavra!”.
DESASTRE, CATÁSTROFE
A Atlantic publicou que o “fracasso das pesquisas é um desastre” para serviços como 538 e o Upshot, do NYT. Mas é sobretudo “uma catástrofe para a democracia, com os dados de opinião pública se tornando inconfiáveis”. Como muitos na Fox News, disse que “há um claro perdedor nesta eleição: as pesquisas”.
NOSSO FUTURO?
Na Europa, os principais jornais alemães acompanharam em choque o que acontecia nos EUA. Para o financeiro Handelsblatt, a votação mostra que “Trump não é um acidente na história” e “o mundo terá de se ajustar, não haverá retorno à harmonia”.
Também para o Süddeutsche Zeitung, “Trump não foi um acidente e, em larga medida, ele incorpora a alma de seu país”.
O Frankfurter Allgemeine Zeitung perguntou na manchete, “É esse o nosso futuro também?”, diante de tantos eleitores de Trump “indiferentes à mentira e à maldade”.
‘THE LITTLE SPLIT’
Em plena cobertura eleitoral, NYT (acima, à esq.), WSJ (dir.), Financial Times e outros levaram à home page que “filho de Jair Bolsonaro enfrenta denúncia de corrupção” que ameaça “enredar” o presidente brasileiro.
Os textos citaram ainda “apropriação indébita, lavagem de dinheiro e associação criminosa”, traduzindo a rachadinha como “the little split”.
Nelson de Sá