Apostar no jornalismo climático e fazê-lo imprimindo às coberturas os valores tradicionais da profissão pode ser uma forma poderosa de melhorar a situação pela qual passa a indústria de mídia. Esta é uma das conclusões do relatório ”Jornalismo climático que funciona”, da União Europeia de Radiodifusão (EBU), do qual participaram numerosos especialistas dos meios de comunicação e do meio acadêmico.
Estas são as razões pelas quais o jornalismo em geral pode se beneficiar da aposta no jornalismo climático:
- O jornalismo climático é sobre o futuro. O jornalismo de hoje está preso no agora. Você precisa desenvolver estratégias para manter e aumentar sua legitimidade na economia da atenção. Segundo o relatório, as redações ainda estão excessivamente focadas em notícias rápidas. “Muito é relatado, muito pouco é explicado.”
- A proteção do clima precisa de esperança para inspirar ação. O jornalismo de hoje se concentra principalmente no drama, nas omissões e nas falhas, diz o estudo da EBU. “O jornalismo construtivo e de soluções oferece um caminho a seguir.” Esse viés de negatividade também se expressa no uso da linguagem. Muitas vezes, o jornalismo “faz pouco mais do que alertar, ameaçar ou assustar. Mas a psicologia revela que isso pode sair pela culatra. O pessimismo constante pode resultar em dormência e desconexão”, sublinha a pesquisa.
- Na proteção do clima, o que conta é o que foi feito. O jornalismo hoje ainda está muito focado no que foi dito. O jornalismo convencional deve se basear em dados e não em citações.
- O jornalismo climático que funciona aborda o público respeitosamente em uma linguagem que as pessoas entendam. “O jornalismo de hoje muitas vezes se eleva acima de seu público de uma maneira que sabe tudo”, observa o relatório da EBU, observando que o jornalismo precisa se tornar diverso e inclusivo.
- O jornalismo climático deve ser local. O jornalismo de hoje muitas vezes insiste em alcance e escala enquanto negligencia as necessidades do público ao virar da esquina, argumenta o estudo. O jornalismo precisa recuperar sua importância como uma instituição de construção da comunidade. “O jornalismo local, por definição, não cria oportunidade de escala, com poucas exceções. Mas é muito necessário em uma democracia”.
- O jornalismo climático deve ter impacto e utilizar a investigação acadêmica, nomeadamente no domínio dos estudos da comunicação. O jornalismo precisa adotar uma mentalidade de aprendizado, argumenta o relatório. “O jornalismo se beneficiará ao se familiarizar com o conhecimento científico de várias maneiras. O conteúdo de qualquer tipo de reportagem se beneficiará do fato de os repórteres se basearem em percepções científicas. Há muito a ganhar lendo corretamente as estatísticas e seguindo as últimas descobertas sobre uma variedade de tópicos, uma conexão que ficou dolorosamente clara durante a pandemia”, cita o estudo.
- O jornalismo climático se beneficia da colaboração. “Os desafios de acertar o jornalismo climático às vezes são grandes demais para serem enfrentados sem colaboração. Além disso, ninguém deve tentar reinventar a roda quando poderia estar aprendendo com os outros. A cobertura climática é complexa e as mudanças climáticas não respeitam fronteiras. O impacto de diferentes tipos de jornalismo climático ainda não foi avaliado. Aprender com os erros rapidamente é crucial para melhorar os produtos e acelerar os esforços. Tudo isso vale igualmente para a maioria das áreas do jornalismo. Entre em contato com outras pessoas afetadas, troque dados e conhecimento”.
Leia aqui o texto original em espanhol.