O GLOBO – 27/10/2018

HENRIQUE GOMES BATISTA

No mesmo dia em que se revelou a existência de ao menos mais quatro bombas contra líderes democratas, a polícia americana anunciou ontem a prisão de Cesar Sayoc Jr., de 56 anos. Indiciado por cinco crimes federais, ele pode ser condenado a até 58 anos de prisão pelo envio de ao menos 14 artefatos explosivos. Radical de direita efã do presidente Donald Trump, o acusado foi descoberto pelas impressões digitais e pelo exame de DNA de fios de cabelo encontrados nos pacotes que enviou.

Apesar de o cenário soar como provável desfecho do caso, a polícia afirma que mais explosivos podem estar em trânsito, e a tensão política segue em alta, turbinada pelo uso do episódio por Trump, que pediu aos eleitores republicanos que votem para compensar “essa coisa de ‘bomba’”. Pelo terceiro dia seguido, os americanos acordaram com notícias de explosivos enviados a democratas ou críticos de Trump. Ontem, os pacotes eram endereçados ao ex-diretor da Inteligência Nacional dos EUA James Clapper, aos senadores Cory Booker e Kamala Harris e ao bilionário Tom Steyer, maior doador democrata. Eles se somam a nomes como Barack Obama, Hillary Clinton, Joe Biden, RobertD eN iro, George Soros, a deputada Maxine Waters, o ex-procurador-geral Eric Holder e o ex-diretor da CIA John Brennan — este, tendo como endereço a emissora CNN, ondeé comentarista convidado.

SUSPEITA DE MAIS PACOTES

De tarde, a polícia informou que deteve Sayoc em Plantation, Flórida, de onde foram enviados os artefatos. Sayoc já foi preso nove vezes por diversos crimes. Também foi apreendida uma van do acusado, coberta com fotos de Trump e republicanos, além de democratas e críticos do presidente — alguns com um alvo em cima. O procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, afirmou ontem que Sayoc é agora acusado de cinco crimes federais: transporte interestadual de explosivos, envio ilegal de explosivos, ameaça a ex-presidentes, ameaça ao comércio interestadual, e agressão a atuais e ex-funcionários federais. — Que isso seja uma lição para qualquer um, independentemente de suas crenças políticas, que traremos toda a força da lei contra quem tenta usar ameaças, intimidação e violência direta para promove ruma ideologia. Nós te encontraremos evamos processá-lo—disse Sessions. De acordo com Chris Wray, diretor do FBI (a polícia federal americana), os pacotes enviados eram perigosos. — Estes artefatos não eram brincadeiras — disse Wray. — E podem existir outros pacotes em trânsito neste momento. Em pronunciamento na Casa Branca, Trump saudou as forças de segurança que prenderam o suspeito, definindo-o como autor de “um ato desprezível”. —Nunca devemos permitir que a violência política crie raízes nos EUA—disseTrump. Antes, porém, o presidente usara o Twitter para explorar eleitoralmente o caso. Escreveu: “Os republicanos estão indo tão bem na votação antecipada enas pesquisas, e agora essa coisa de ‘bomba’ acontece e o ímpeto diminui bastante — notícias que não falam de política. Muito infeliz, o que está acontecendo. Republicanos, saiam e votem!” Além deusa rocas o como assunto para a campanha das eleições de 6 de novembro, a forma comoTrumpcit ou apalavra“bomba ”, entre aspas, foi criticada por democratas, que viram uma tentativa do presidente de desmerecer o episódio. Trump nunca falou que as bombas eram ameaças terroristas e deu combustível para grupos de extrema direita que passaram a divulgar suposições de que elas foram criadas pelos democratas para obter dividendos nas urnas.

PRESIDENTE SAI CRITICADO

O presidente foi criticado em todo o episódio, entre outros motivos, por pedir a união dos americanos e, em seguida, acusar a imprensa de disseminar a raiva com “notícias falsas”. Ontem, disse que não mudaria seu tom:

— Acho que já estou mais tranquilo, se você quer saber a verdade —disse Trump. —Eu até poderia realmente subir meu tom porque, como você sabe, a mídia tem sido extremamente injusta comigo e com o Partido Republicano.