O ESTADO DE S.PAULO – 25/10/2018
O presidente executivo da Apple, Tim Cook, criticou ontem a forma como dados pessoais estão sendo usados por empresas de tecnologia para obter lucro. Segundo ele, hoje existe um “complexo industrial de dados”. “Nossas próprias informações, de coisas do cotidiano a aspectos profundamente pessoais, estão sendo usadas contra nós”, disse Cook, durante uma conferência internacional sobre proteção de dados e privacidade digital no Parlamento Europeu, em Bruxelas, na Bélgica.
Tim Cook não nomeou as empresas a que se referia, mas os alvos dele são claros: Google e Facebook, companhias conhecidas por adotarem um modelo de negócios que direciona propagandas e conteúdos a partir de dados dos usuários.
Invasivo. “Levado ao extremo, esse processo cria um perfil digital duradouro e permite que as empresas te conheçam melhor do que provavelmente você se conhece. Seu perfil é um conjunto de algoritmos que servem conteúdos e prejudicam nossas preferências”, disse Cook. “Para que a inteligência artificial seja realmente inteligente, ela tem que respeitar os valores humanos, incluindo privacidade.”
O executivo da Apple também defendeu as regulamentações de privacidade de países como a União Europeia, que colocou em vigor em maio o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês). O Brasil, que recentemente aprovou a Lei Geral de Proteção de Dados, também foi citado com um exemplo. “É hora de o resto do mundo, incluindo meu próprio país, seguirem esses modelos”.
Cook também criticou empresas de tecnologia que batem de frente com essas regulamentações de privacidade, e defendeu o poder da tecnologia de ter impactos positivos na sociedade.
Rixa. Não é a primeira vez que Cook critica rivais: em abril, ele e Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, trocaram farpas após a revelação do escândalo da consultoria Cambridge Analytica, que utilizou indevidamente os dados de 87 milhões de usuários do Facebook em campanhas políticas. Na época, Cook disse que “clientes não são produtos”. Também declarou que o Facebook e o Google tentam aprender tudo sobre os usuários para depois monetizar as informações. “Achamos isso errado e não é o tipo de empresa que a Apple quer se tornar”, disse.
Em resposta, Zuckerberg afirmou que tratar o assunto dessa forma é extremamente simplista e não é completamente verdadeiro.