Por João Colosalle
O jornalismo convive há alguns anos com o termo mobile first. Não é por acaso. O acesso a um smartphone parece ser das poucas coisas que rompem as barreiras da desigualdade social dos brasileiros. Há 242 milhões deles no Brasil, segundo um levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Sim, é mais celular do que gente por aqui. Os bancos estão neles, assim como os serviços do governo, os sites de compras, os tocadores de músicas, filmes e séries, as redes sociais, sem contar os aplicativos de conversas que revolucionaram a forma de se comunicar. Por que o jornalismo não estaria?
Para o jornalismo, o smartphone se tornou um meio de massa para distribuição de conteúdo e para a captação da audiência. A maneira como os celulares se tornaram parte do dia a dia do brasileiro, especialmente depois que o acesso à internet 4G se popularizou, faz deles um ponto quase que ininterrupto de contato com o cidadão. Relevante e natural, então, que os jornais estejam neste espaço.
Por muito tempo, nos primeiros passos do mundo online, os jornais fizeram de seus sites meras reproduções do conteúdo publicado nas edições impressas. Essa lógica mudou. Hoje, os sites de notícias publicam ainda mais conteúdo nos meios digitais do que nas páginas de papel, limitadas fisicamente às folhas que saem das rotativas.
Os furos não estão mais reservados à edição do dia seguinte. Pelo contrário, ocupam as manchetes das homepages antes mesmo do fechamento impresso. Essa seria a lógica do chamado digital first – ou seja, primeiro, os usuários do digital -, que faz sentido em um país onde 81% da população acessou a internet em 2021 e a tiragem de jornais impressos tem tido queda, uma tendência mundial.
No entanto, se o digital first tem se consolidado entre os veículos de comunicação, ao menos os de médio e grande porte, a estratégia de privilegiar a distribuição e a apresentação do conteúdo pelo celular ainda vive um processo de adaptação para uma imensa quantidade de outros veículos, especialmente os locais, de menor porte.
Não são muitos os jornais que publicam conteúdo na internet levando em consideração um dado que indica uma revolução na presença online do brasileiro: entre 2014 e 2021, o acesso à internet por celular ultrapassou o feito por computador, que despencou. Hoje, 99% dos usuários acessam a internet pelo meio mobile.
É imperativa a mentalidade de que é preciso produzir e entregar informação para esta massa de usuários que está conectada com um smartphone na mão. Mas não basta estar por estar.
O conceito de mobile first pressupõe um conteúdo ou plataforma pensado para funcionar bem, prioritariamente, na tela de um celular. Isso significa ser intuitivo, responsivo e ágil, seja num app ou em uma página acessada pelo navegador.
A característica intuitiva é necessária porque o usuário precisa ser guiado durante a navegação e saber encontrar o que procura com facilidade. A responsividade é a correspondência entre a ação do usuário e o retorno assertivo que ele tem. E a agilidade fala por si só. Que atire a primeira pedra quem não se irrita com uma página que demora para carregar na internet.
Em 2020, o Grupo Liberal, de Americana (SP), onde sou editor-executivo, promoveu uma alteração no layout do site do jornal impresso, que é carro-chefe da empresa. É claro que havia uma preocupação enorme sobre como a homepage e as páginas de notícias teriam um layout atrativo para o conteúdo e para o usuário que acessasse o site por um computador – grandes fotos e títulos, publicidade que não fosse invasiva, hierarquia do noticiário em colunas e rolagens etc.
Mas, no final das contas, a maioria dos usuários seria impactado apenas pelo scroll vertical de uma coluna que as telas dos celulares impõem às navegações. E quando digo maioria, era maioria mesmo. Atualmente, quase 90% dos usuários que acessam o site do Liberal o fazem por meio de um celular – o percentual é semelhante em jornais do interior paulista.
Por aqui, então, trabalhamos para melhorar essa experiência mobile para os nossos leitores e usuários – algo que foi o objetivo do projeto que o Liberal propôs para participar do programa de Aceleração da Transformação Digital promovido por Meta, ICFJ (Centro Internacional para Jornalistas), ANJ e Aner.
Valorizar a audiência que acessa via smartphone é algo que sugiro cada vez mais aos colegas jornalistas que se metem na empreitada de tocar um veículo de comunicação ou que são responsáveis pelo desempenho digital do conteúdo.
No entanto, não deixo de lembrar que é preciso mais do que apenas estar online. É necessário ter conhecimento, técnica e recursos – o que entidades como a ANJ e a Aner e as big techs têm oferecido aos montes com suas parcerias – para atrair a audiência e fazer a informação chegar.
Editor-executivo do jornal Liberal, de Americana (SP)