Entre janeiro e abril deste ano, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) identificou 151 episódios de agressão física e verbal ou outras formas de cercear o trabalho jornalístico, como restrições de acesso à informação, ataques de negação de serviço na internet, doxing (exposição de dados pessoais), processos civis ou penais, assassinato, assédio sexual e uso abusivo do poder estatal. Segundo a entidade, esse cenário sofreu uma piora em relação a 2021: houve um aumento de 26,9% considerando o mesmo período do ano passado.

Em 2022, o tipo de agressão mais comum continua sendo o discurso estigmatizante – assim como foi em 2019, 2020 e 2021 –, presente em 66,9% dos alertas identificados até abril. Foi registrado um aumento de 12 casos dessa forma de violência verbal em comparação com o mesmo período do ano passado. A categoria de “agressões e ataques”, que envolve violência física, atentados e ameaças explícitas, também aumentou, apresentando um salto de 80%.

Além disso, diferentemente de 2021, em 2022, registrou-se um assassinato e dois casos de violência sexual, classificados de acordo com o novo indicador estabelecido pela rede latino-americana Voces del Sur, que passou a incluir a perspectiva de gênero em sua metodologia, registrando situações de assédio, ameaças, atos ou comentários indesejados de natureza sexual em uma categoria própria. Esses resultados definem, até o momento, 2022 como um ano mais violento para o jornalismo brasileiro do que o anterior.

Os dados do projeto também apontam para uma participação intensa de agentes públicos nos ataques. Entre o total de casos registrados, 70,2% contaram com o envolvimento de atores relacionados ao Estado e 57,6% tiveram a participação de figuras que cumprem mandatos em cargos eletivos. Esses números revelam um contexto sombrio no qual representantes dos poderes constituídos atacam um pilar essencial para a própria democracia, que é a imprensa livre.

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