Jean Mannrich

A transição digital entre os publishers do Brasil passa pelo acerto de estratégias muito específicas para veículos de realidades diferentes. Ajudar na superação desse e de outros desafios tem sido uma das tarefas realizadas com sucesso pelo Comitê Mercado Leitor da Associação Nacional de Jornais (ANJ). “Não temos cenários iguais para todos os publishers. O grau de maturidade digital muda de veículo para veículo”, diz o coordenador do comitê, Jean Mannrich, Gerente Executivo b2c da NSC Comunicação. “Cada publisher tem seu tempo, e entender esse tempo é fundamental”, completa Mannrich, que desde abril deste ano estabeleceu uma prática de trabalho dividida em grupos a partir de temas decisivos atualmente para as editoras em relação aos leitores. Veja abaixo trechos de entrevista concedida por ele ao site da ANJ.

Características diferentes
“Temos um desafio que é enorme porque a gente não tem cenários iguais para todos os publishers. O grau de maturidade digital muda de veículo para veículo. Alguns jornais não têm mais uma relação de preocupação com o meio impresso e estão completamente orientados para o produto digital. Então, a forma de se organizar, de trabalhar, a forma como as redações estão constituídas, o foco prioritário é o digital. Tudo converge nessa direção. Há outros veículos que estão em um estágio que o papel ainda tem muita relevância no seu negócio. Trabalham de forma bastante híbrida. Olhando para o futuro, para o digital, mas sempre tendo o foco e uma energia importante no jornal impresso pela relevância e contexto que isso tem em seu negócio”.

Viés digital
Administrar a diversidade de assuntos no comitê é um desafio muito importante porque temos de calibrar a cada momento a forma com tratamos essas necessidades e características dos publishers para que a gente possa atender da melhor forma. Conseguir a adaptação perfeita para o meio digital é algo que vai acontecendo gradativamente na medida que as editoras vão avançando nesta direção. Praticamente todos os temas (abaixo) foram tratados com viés digital, que é a sustentação do negócio que todos entendem que seja o caminho a ser seguido, mas cada publisher a seu tempo. Entender esse tempo é fundamental. Esse é um grande desafio”.

Temas aprofundados
O trabalho do Comitê Mercado Leitor foi dividido em grupos temáticos (Paywall, Indicadores Retenção de assinantes, Novas receitas, E-commerce, Atendimento ao cliente/ Canais eletrônicos, Novos formatos de receitas e Conhecimento do cliente e CRM/Big data), garantindo maior profundidade nos debates. “A gente trabalhou os temas que foram mapeados durante reuniões realizadas no final de 2020. Criamos uma mecânica onde os publishers relatavam qual eram seus principais desafios. A partir disso, fizemos uma seleção dos principais temas para que pudéssemos ter um nível de maior profundidade nos debates. A mecânica era a seguinte: a partir da lista de desafios montamos grupos menores para que as pessoas pudessem construir apresentações, trocas de informações com um nível de detalhes sobre esses temas centrais. A apresentação era feita para os demais integrantes do Comitê Mercado Leitor. Esse material serve como repositório para que a ANJ disponibilize a todos associados a qualquer momento. Fica à disposição.

Importância do impresso na transição digital
A função do impresso tem diferentes níveis na estratégia dos publishers, mas sem dúvida nenhuma tem uma importância estratégica para posicionamento de branded, para a manutenção da base de assinantes, que pode ser um público possível para outros produtos. Existe ainda uma relevância importante para atender um público que tem o hábito da leitura por meio do jornal impresso. Sem dúvida, conforme a estratégia de cada veículo o papel tem patamares de relevância diferente. A médio e longo prazos os veículos vão atender seus consumidores por meio dessa plataforma de conteúdo.

Realidade nacional
Por meio do comitê e da formação de grupos em uma entidade como a ANJ, temos as melhores práticas, as formações de troca de experiências e benchmark. Também é natural que as organizações busquem inspirações nos mercados norte-americano e europeu, por exemplo. Mas a realidade nacional é diferente, ainda que a globalização e esses mercados mais maduros possam nos orientar em relação a comportamento do usuário e tecnologias. Mas adaptar esse conceito para uma realidade nacional requer um esforço específico. O Comitê vem vindo muito nessa linha. A gente observa cada publisher aplicando essas observações nas suas estratégias. Observam o que acontece em seus negócios, mas também tem informações de outros no mercado nacional e conseguimos ter uma troca de análises mais críticas e o real cenário que estamos envolvido. Isso é um ganho que o Comitê proporciona. A gente consegue por meio desse fórum estabelecer rumos, direções visões… e também tem uma condição importante que dentro do comitê existe uma diversidade de tamanhos. Há veículos com determinado tamanho que tem uma estratégia de ampliação de base que conseguem mostrar para outros que não têm a mesma condição de ter essas informações e tecnologias. Essas pessoas estão ali trocando informações com os menores que podem aprender com os maiores. Além disso, também tem a condição de sair da rotina e ter o momento para trocar experiências e efetivamente planejar seus negócios de forma contributiva, com outros players envolvidos.

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