O GLOBO – 27/10/2018

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, subiu o tom contra a Arábia Saudita e exigiu ontem que o país revele o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul, assim como a localização do corpo. Em discurso a integrantes do seu partido em Ancara, Erdogan afirmou que a Turquia tem mais informações além das já divulgadas sobre a morte de Khashoggi, um crítico das políticas do reino e do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante da Arábia Saudita.

REINO NEGA ENVOLVIMENTO

Maior exportador de petróleo do mundo e sócio estratégico do Ocidente, a monarquia do Golfo Pérsico enfrenta uma crise desde que o jornalista desapareceu após entrar no consulado saudita em Istambul, no dia 2 de outubro, a fim de obter papéis para casar-se. De acordo com Erdogan, Riad deve revelar a identidade do “colaborador local” que, segundo funcionários sauditas, ficou responsável pelo corpo de Khashoggi após o assassinato. A Procuradoria Geral da Arábia Saudita admitiu na quinta-feira que o crime contra Khashoggi, colunista do jornal americano “Washington Post”, foi premeditado, mudando uma versão anterior do governo, segundo a qual ele morrera acidentalmente numa briga dentro do prédio com os agentes que o interrogavam. As diferentes versões da Arábia Saudita sobre o caso provocaram pressão para que Riad diga quem foi o mandante do assassinato. Temeroso de represálias por suas críticas a Bin Salman, Khashoggi fugira do reino em 2017. Segundo o governo turco, 15 agentes — alguns com ligações diretas com Bin Salman — viajaram de Riad a Istambul horas antes do assassinato. — Quem deu essa ordem? Quem deu a ordem para que 15 pessoas viessem à Turquia? —indagou Erdogan. Funcionários sauditas inicialmente negaram qualquer relação com o desaparecimento de Khashoggi, antes de anunciar que uma investigação interna sugeria que o jornalista foi assassinado por um erro numa operação fracassada cujo objetivo seria levá-lo para a Arábia Saudita. Riad assegurou que 18 pessoas foram detidas e que cinco funcionários de alto escalão do governo foram demitidos. Pouco depois do pronunciamento do presidente turco, a Procuradoria turca anunciou que pediu a extradição dos 18 acusados por Riad.