O ESTADO DE S.PAULO – 16/08/2018

DANIEL BRAMATTI, CECÍLIA DO LAGO, LUIZ FERNANDO TOLEDO, CAIO SARTORI e ALESSANDRA MONNERAT

O Facebook detectou evidências de comércio de seguidores e curtidas e derrubou uma rede de “engajamento falso” formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social. Foram deletadas ainda 51 contas no Instagram. Mantida por brasileiros, a rede foi detectada em investigação sobre a amplificação artificial de engajamento em páginas políticas na recente campanha eleitoral no México. O objetivo seria lucrar com as falsas interações.

Após detectar evidências de comércio de seguidores e curtidas, o Facebook derrubou, na manhã de ontem, uma rede de “engajamento falso” formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social. Foram deletadas ainda 51 contas no Instagram, que eram relacionadas ao mesmo grupo. No fim da tarde, o Facebook anunciou a exclusão de mais sete perfis e dois grupos. Isso ocorreu depois que parte dos integrantes da rede tentou voltar à plataforma.

Mantida por brasileiros, a rede foi detectada durante uma investigação sobre a amplificação artificial de engajamento em páginas políticas no México, durante a recente campanha eleitoral naquele país, conforme revelou ontem o Portal Estadão.O objetivo seria lucrar com essas falsas interações.

Quem descobriu o mercado de compra e venda de engajamento foi o Digital Forensic Research Lab (DFRLab), uma unidade investigativa do Atlantic Council, organização não governamental norte-americana que municia o Facebook com informações sobre “ameaças de abusos” e “campanhas de desinformação” na rede social.

O Estado teve acesso ao relatório preparado pelo DFRLab, em parceria com o Centro Adrienne Arsht para a América Latina. Segundo a investigação, a rede negociava interações na rede social, seguidores e até páginas em troca de dinheiro. No México, teria se envolvido na promoção de conteúdo político, principalmente contrário ao então candidato Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, que foi eleito. O risco era de que influenciassem também nas eleições brasileiras, embora isto não tivesse sido detectado pelo relatório.

A justificativa para a remoção das páginas e perfis é a violação de políticas de autenticidade e de spam. “Não permitimos o uso de informações enganosas ou imprecisas para conseguir curtidas, seguidores ou compartilhamentos”, afirma um trecho do documento Padrões da Comunidade, que estabelece as regras de uso do Facebook. A plataforma também não permite que usuários usem identidades falsas.

Política. O grupo que coordenava as páginas se chamava PCSD. Um dos administradores, Jhonatan Yahsser (o sobrenome é fictício e usado por ele nas redes sociais), disse à reportagem que nunca ganhou dinheiro com elas e nem tem ligação com políticos (mais informações nesta página).

A entidade americana, no entanto, detectou que reações a dois posts de conteúdo político apelativo em duas páginas distintas do Facebook, “vieram não apenas de contas brasileiras, mas das mesmas contas brasileiras, e reagiram na mesma ordem”.

Os usuários tinham conexões com a página brasileira Frases & Versos, que acumulava mais de 5,3 milhões de curtidas até recentemente. Entre seus administradores estava um usuário identificado como Anderson Leite – era este o elo com a rede PCSD. Membros do grupo descreviam negociações de interações no Facebook, no Twitter e no Instagram “em troca de dinheiro, de pagamentos via PayPal, ou de outras páginas”, segundo o documento.

Nos últimos meses, o Facebook tem adotado medidas para coibir engajamentos falsos ou inchaço artificial de seguidores. Desde junho, por exemplo, qualquer usuário pode verificar se uma página teve o nome alterado e a data de sua criação. O objetivo é evitar, por exemplo, que uma página sobre animais de estimação, depois de conquistar milhares de seguidores, seja vendida para terceiros interessados em difundir determinadas posições políticas.