O governo do Reino Unido anunciou nesta semana a proibição do uso da expressão “fake news” (notícias falsas) em documentos políticos ou oficiais, em resposta a uma longa análise sobre a manipulação nas redes sociais como tentativa de influenciar eleições. A recomendação aos ministros é para que casos de falsidade, boatos e outras inverdades sejam qualificados como desinformação (“misinformation” ou “disinformation”), seguindo o que foi definido pela União Europeia neste ano. As iniciativas governamentais informadas agora, entretanto, frustraram os integrantes da apuração, que produziu 42 recomendações.
“A resposta do governo ao nosso relatório sobre desinformação e notícias falsas é decepcionante e uma oportunidade perdida”, disse Damian Collins, presidente do comitê britânico que trata dos segmentos digital, cultural, de mídia e de esportes. O órgão lidera o análise, que teve início após a percepção – seguida de confirmação – de interferências na campanha eleitoral à presidência dos Estados Unidos e no referendo do Reino Unido para deixar a União Europeia (UE), o Brexit.
“Precisamos de uma abordagem mais coordenada em todo o governo para combater campanhas de desinformação organizadas por agências russas que buscam romper e minar nossa democracia. A resposta do governo não nos dá nenhuma indicação real de que medidas estão sendo tomadas sobre esta importante questão”, lamentou Collins. Entre todas as recomendações do comitê, o governo manifestou-se em relação a sete delas. Rejeitou quatro e aceito três.
Entre as medidas acatadas, a proibição do uso da expressão “fake news” (notícias falsas) em documentos políticos ou oficiais é motivada pelo entendimento segundo o qual termo é “mal definido e enganoso”, combinando uma variedade de informações falsas, desde erro genuíno à interferência estrangeira em processos democráticos.
Além disso, a expressão foi considerada pelo comitê liderado por Collins como um termo genérico que tem sido usado por governantes e líderes autoritários para intimidar a imprensa e rejeitar denúncias de violações de direitos humanos. O recurso tem sido visto até mesmo em sólidas democracias, como nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump costuma usar o termo “fake news” para desqualificar o jornalismo independente e crítico.
A decisão britânica segue orientação Comissão Europeia para combater a disseminação das notícias falsas. A partir de trabalho feito por um grupo de especialistas, a comissão recomenda que o termo “fake news” não seja utilizado porque não ilustra bem a realidade e, por vezes, mistura fatos reais com dados falsos. Em vez disso, sugere que se use o termo desinformação, que engloba informações falsas ou inexatas, criadas para obter um benefício específico ou para prejudicar publicamente alguém ou algo.
Sem novo imposto
Entre as iniciativas sugeridas pelo comitê comandado por Collins negadas pelo governo britânico, está a criação de um novo imposto para empresas como Facebook e Twitter que poderia ser usado para financiar a educação nas escolas, além da divulgação de quantas investigações estão sendo realizadas sobre a interferência da Rússia na política do Reino Unido.
A queixa de Collins quanto às negativas é respeitada por analistas. No entanto, muitos deles reconhecem que implantar medidas mais amplas não é tão fácil quanto recomendá-las. “Todo mundo está lutando com isso”, disse Ben Nimmo, especialista em defesa da informação do Laboratório Digital de Pesquisa Forense do Atlantic Council.
“De muitas maneiras, isso não é um problema que você vai resolver pela legislação.” Nimmo disse que há múltiplas facetas para a disseminação da desinformação, como a manipulação de imagens, “muito mais difíceis de decifrar” do que as notícias falsas.
Leia mais em:
https://www.telegraph.co.uk/technology/2018/10/22/government-bans-phrase-fake-news/
http://europa.eu/rapid/press-release_IP-18-1746_es.htm
/HTTPS://BR.REUTERS.COM/ARTICLE/INTERNETNEWS/IDBRKCN1M62BN-OBRIN