A Associação Nacional de Jornais (ANJ) concedeu nesta quinta-feira (27) o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa ao presidente-emérito do Grupo RBS (RS), o empresário Jayme Sirotsky. Ele recebeu a premiação pela relevância de seu notável trabalho na defesa das liberdades de imprensa e de expressão nos âmbitos regional, nacional e internacional.
Jayme Sirotsky disse se sentir honrado e agradecido à ANJ, a amigos e companheiros presentes e que o acompanharam ao longo de nove décadas, à família e aos colegas de RBS. “Nesse tempo todo enfrentamos e seguimos desafiados diante de ameaças, censura, fundamentalismo, negacionismo e, agora, um trumpismo respaldado pelas big techs que vem deturpando as ideias de liberdade de expressão”.
“Para combater tudo isso temos lutado, principalmente de forma associativa, livre e qualificada”, destacou. Lembrou de ter participado do debate e elaboração da Carta de Chapultepec, cujos princípios permanecem inalienáveis. Destacou as missões que fez empunhando a bandeira da liberdade de expressão em diversos países, democráticos e autocráticos. “Tivemos sucessos e fracassos, mas sempre deixamos marcadas as nossas ideias”.
Ao comentar sobre os excessos espalhados na Internet, Jayme Sirotsky disse que sempre preferiu e defendeu a autorregulação, mas que hoje, diante de tantos efeitos colaterais das redes sociais, acredita que o melhor a fazer é regular as big techs, de preferência em uma espécie de governança global, por mais utópico que isso possa parecer. “Pregar a desinformação é liberdade de expressão?”, questionou, para em seguida responder: “Estamos todos refletindo atualmente sobre isso”.
O presidente-emérito da RBS disse que há alguns anos tem se dedicado à educação, à frente do Instituto Jama, que tem formado, dado oportunidades e ajudado milhares de jovens a usar de forma correta as novas tecnologias. “O melhor caminho para proteger as pessoas de ataques à suas liberdades é ensiná-las para estarem aptas a se defender, para que os jovens saibam se proteger das armadilhas espalhadas nas redes sociais”, disse. “A educação talvez seja uma gota no oceano, mas sem ela o oceano ficaria menor”.
“É uma alegria pessoal muito grande prestar esta homenagem a uma pessoa que serve de inspiração e modelo a gerações de jornalistas, dentre os quais me incluo”, disse Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ. “A escolha do prêmio sempre é precedida por acesos e saudáveis debates na diretoria da entidade. No caso do Jayme, porém, houve uma rara unanimidade, porque, sem sombra de dúvidas, homenageamos aqui um campeão brasileiro e mundial da liberdade de imprensa”, completou.
Agregador
“Poderia dizer muitas coisas sobre a relevância do Jayme na RBS, na nossa família e em todos os cantos do mundo onde ele levou a palavra da liberdade de expressão”, disse Nelson Sirotsky, publisher do Grupo RBS. “Mas prefiro contar aqui a imensa emoção que senti com a forma carinhosa e unânime dos integrantes da diretoria quando o nome do Jayme foi sugerido como premiado pela ANJ”, afirmou. “Nós todos temos o privilégio de conviver contigo, Jayme, e, hoje, poder te homenagear da forma como tu tanto mereces”.
“Algumas pessoas foram muito importantes na minha vida, como o meu pai, e você Jayme é uma delas, pela sua visão sobre jornalismo e pela generosidade com a qual ensina e passa para as pessoas todos os seus conhecimentos e valores”, disse João Roberto Marinho, presidente do Grupo Globo. Ele lembrou ainda da importância da presidência de Jayme Sirotsky na ANJ em uma época na qual que os jornais eram muito competitivos entre eles. “Com seu jeito agregador, você naturalmente nos uniu em torno desse espírito de companheirismo no jornalismo”, disse.
Resistência em nome das liberdades
“Na Inglaterra há uma secular tradição na qual o rei concede o título de Cavaleiro a um seleto grupo de pessoas que contribuem de forma inestimável e com grande desprendimento para o Reino Unido. No Brasil, o nosso Cavaleiro das Liberdades de Imprensa e de Expressão…. sir Jayme!, como disse carinhosamente uma das principais analistas políticas do país, a jornalista Rosane de Oliveira, que atua no Grupo RBS”, afirmou Francisco Mesquita Neto, vice-presidente da ANJ, coordenador do Comitê de Liberdade de Expressão da ANJ e presidente do Conselho de Administração da S/A O Estado de S.Paulo.
“A atuação global de Jayme em defesa global das liberdades de imprensa e de e expressão, na WAN e na SIP, é certamente uma das bases da atual frente de resistência formada pelas empresas jornalísticas e pelos profissionais de imprensa aos avanços globais cada vez mais nocivos e espaçosos de práticas e ideias autoritárias diante dos desafios impostos pela chamada Era Digital”, destacou.
Para Mesquita, Jayme Sirotsky também presidiu a ANJ por dois mandatos de forma inovadora de inovação e em defesa da união dos associados, marcada pela resiliência e determinação, características tão próprias do povo do Rio Grande do Sul, que ainda enfrenta os impactos das enchentes de maio de 2024. “Foi esse tipo de ética, de atitude franca, íntegra e honesta que Jayme Sirotsky semeou ao longo dos anos de atuação no Brasil e no mundo a partir do solo gaúcho”, disse Mesquita.
Embaixador do jornalismo
“Jayme sempre foi muito mais do que um líder no jornalismo – um verdadeiro militante incansável da liberdade de imprensa, defensor intransigente do jornalismo de qualidade e um grande embaixador do Brasil no cenário internacional”, destaca Carlos Fernando Lindenberg Neto, o Café, presidente do Conselho de Administração da ANJ e presidente da Rede Gazeta (ES). “Sua visão, generosidade e paixão pela comunicação sempre foram inspiração para todos nós. Esse prêmio é um justo reconhecimento por sua contribuição inestimável à imprensa e à democracia”.
Conhecido por seu espírito de inovação e de defesa a causas sociais, o empresário tem uma longa história de mais de 65 anos na RBS,onde atuou desde o início da formação da empresa, fundada pelo seu irmão, Maurício Sirotsky Sobrinho, cujo centenário de nascimento (5 de junho) é comemorado neste ano.
Jayme Sirotsky sempre esteve à frente de entidades, movimentos e iniciativas em defesa das liberdades de expressão e de imprensa. Foi o primeiro latino-americano a assumir a presidência da Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA), quando se consagrou como um reconhecido líder mundial de imprensa.
O empresário, natural de Passo Fundo (RS), também foi vice-presidente e membro do conselho da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e teve papel de destaque na elaboração da chamada Declaração de Chapultepec, em 1994, que estabelece a imprensa livre “como condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam a sua liberdade”. Jayme Sirotsky presidiu a ANJ por dois mandatos e é um dos fundadores do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Atuou ainda como dirigente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e de entidades regionais.
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