Monitoramento feito pelo projeto “Violência de gênero contra jornalistas”, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), mostra que no Brasil, ao longo de ano passado, 89 jornalistas e meios de comunicação foram alvos de 119 ataques de gênero relacionados à profissão, o que representa quase 10 casos de agressões, ofensas, ameaças e intimidações por mês. O número representa uma média de 1 ataque a cada 3 dias.
Os resultados também chamam atenção porque têm como principais agressores internautas (51,7%) e autoridades públicas (36,1%). As vítimas foram, majoritariamente, mulheres (91,6%). Entre os agressores individuais, 91,3% são homens. Em 53,3% dos episódios com violência explícita de gênero – marcados por insultos baseados em sexualidade, orientação sexual, aparência e identidade de gênero –, os homens foram promotores e instigadores das agressões.
Entre as agressões mais comuns, destacam-se os discursos estigmatizantes, ataques verbais – que podem ou não conter imagens, vídeos e áudios – com o objetivo de difamar e desacreditar as vítimas. Em 2021, eles estiveram presentes em 79% dos casos e foram perpetrados na forma de campanhas sistemáticas de descredibilização e desrespeito às vítimas (60,6% dos casos de discursos estigmatizantes), discursos hostis de autoridades e figuras proeminentes no cenário político nacional (57,4% dos episódios) e campanhas de desinformação (4,3%).
O projeto “Violência de gênero contra jornalistas” é a extensão de um trabalho focado em violações da liberdade de imprensa, realizado pela Abraji em parceria com a rede Voces del Sur desde 2019. Mais que apresentar os dados, o relatório reflete sobre as causas desse cenário hostil para as mulheres jornalistas e traz recomendações. O monitoramento tem o financiamento da UNESCO e o apoio de Mulheres Jornalistas, Instituto Patrícia Galvão, Fenaj, Gênero e Número, CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) e Repórteres sem Fronteiras.
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