O terceiro painel do 2º DATA DAY da ANJ tentou responder seguinte pergunta: “Como a IA poderá impactar nos modelos de negócios?”. O debate contou com André Furlanetto, Diretor Executivo de Estratégias Digitais do jornal O Estado de S.Paulo; Guilherme Vieira, Diretor de Negócios Digitais da Gazeta do Povo (PR); e Camila Marques, Editora de Audiência e Digital da Folha de S.Paulo.

Para Furlanetto, o impacto da IA é real, tal como foi o impacto do digital no impresso. “É um movimento da mesma magnitude, até do ponto de vista de risco”, disse. Segundo ele, se a indústria cometer os mesmos equívocos da mudança anterior, “corremos sérios riscos de extinção do negócio”. Ao mesmo tempo, na redação, a IA pode fazer tarefas repetitivas, liberando os jornalistas para fazer tarefas de alto valor.

Os instrumentos de IA, por meio de algoritmos, segundo Furlanetto, podem montar todo o motor de negócio de uma organização de notícias. Mas nada disso absolve a organização de ter clareza em quais são os seus objetivos. Ele deu o exemplo da Gazeta do Povo, que definiu bem o seu público alvo, objetivo de comunicação e uma visão de mundo. “Em particular na distribuição via plataformas, tem muita gente perseguindo volume e distribuição massiva, fazendo o inverso do que deveria fazer, ou seja, tornar seus conteúdos mais valiosos”.

Segundo Guilherme Vieira, para a Gazeta Povo, do Paraná, a internet baseada em buscas é a boca de funil para o jornal. O diário fez um movimento de nacionalização e hoje 2/3 da sua audiência está espalhada pelo Brasil.

O executivo do jornal paranaense disse que há, atualmente, uma dúvida se os links continuarão a remeter aos produtos dos jornais. “Enxergamos isso tudo como algo existencial, é preciso abraçar a produtividade e a criatividade”. Para ele, o caminho é o debate continuado com as big techs, que parece ter se estabelecido, após um período de demora.

Camila lembrou que a preocupação central da indústria jornalística é a sustentabilidade. Nesse sentido, há uma divisão entre veículos que estão fazendo acordos e os que têm seguido o caminho de litigância por apropriação dos direitos autorais.

Furlanetto afirmou que, na prática, o conteúdo dos jornais já foi levado. “Agora estão fazendo algo tipo uma indenização”. Para ele, os acordos precisam apresentar as seguintes características: flexibilidade, ou seja, nada é definitivo e nada é descartável; não fechar em definitivo, até porque mesmo quem gerencia IA não sabe o que vai acontecer no futuro; aproveitar a IA para melhorar os seus negócios; e garantir relevância à marca.

De acordo com Camila, os objetivos dos jornais não estão mais centrados no volume, mas na qualidade. “Qual o conteúdo que tem muita relevância ao seu usuário? Qual conteúdo vai virar assinatura? E a retenção? Vieira, de forma otimista, lembrou que a IA não tem a metodologia jornalística e que isso pode, eventualmente, aumentar o valor das empresas de notícias.

Foto: Rogério Lorenzoni / Studio3x