Embora as tecnologias digitais tenham oferecido “oportunidades ilimitadas” para o desenvolvimento sustentável, a educação e a inclusão, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), Rosemary DiCarlo, alertou na segunda-feira (23) para os riscos que esse avanço oferece.

“Temos uma oportunidade crítica de construir um consenso sobre como as tecnologias digitais podem ser usadas para o bem das pessoas e do planeta, ao mesmo tempo em que abordamos seus riscos”, disse ela ao Conselho de Segurança. A subsecretária-geral observou que as mídias sociais transformaram os direitos humanos e a advocacia humanitária, “tornando possível mobilizar pessoas em todo o mundo de forma rápida e eficiente em torno de questões que exigem ação urgente”.

Mantendo a paz e a segurança, os desenvolvimentos técnicos melhoraram a capacidade de detectar crises, melhor pré-posicionar a ajuda humanitária e criar ferramentas de construção da paz baseadas em dados. Na prevenção de conflitos, novas ferramentas digitais fortaleceram a pacificação e a construção da paz, fornecendo melhores informações e dados de alerta antecipado.

Além disso, as novas tecnologias podem apoiar os processos políticos, particularmente na promoção da inclusão. “Em várias negociações de paz, usamos diálogos digitais assistidos por inteligência artificial (IA) para alcançar milhares de interlocutores, ouvir seus pontos de vista e prioridades”, disse ela. “Esta tem sido uma forma particularmente útil de alcançar grupos tradicionalmente excluídos, como as mulheres”.

Tendências preocupantes

No entanto, existem áreas de preocupação. Nesse sentido, Rosemary DiCarlo citou estimativas de que o número de incidentes nacionais e não patrocinados pelo Estado de uso de tecnologia maliciosa quase quadruplicou desde 2015. “De preocupação específica é a atividade [maliciosa] direcionada à infraestrutura que fornece serviços públicos essenciais, como agências de saúde e humanitárias”, disse ela.

Ao mesmo tempo, armas autônomas letais levantam questões sobre a responsabilidade humana quando a força é usada. E citou o terrorismo como exemplo. “Atores não estatais estão se tornando cada vez mais adeptos do uso de tecnologias digitais de baixo custo e amplamente disponíveis para perseguir suas agendas”, alertou a funcionária da ONU, destacando que grupos terroristas como a Al-Qaeda estão usando ativamente plataformas de mídia social para recrutar, planejar e angariar fundos

Vigilância estatal

Desde tecnologias de vigilância que podem atingir comunidades ou indivíduos até a IA potencialmente discriminatória, subsecretária-geral chamou a atenção para as implicações de direitos humanos das novas tecnologias. “Também estamos preocupados com o crescente uso de desligamentos da internet, inclusive em situações de conflito ativo, que privam as comunidades de seus meios de comunicação, trabalho e participação política”, disse, lembrando de Mianmar, onde esses incidentes cresceram em número e duração desde o golpe militar do ano passado.

Além disso, as mídias sociais podem alimentar a polarização e a violência ao espalhar desinformação, radicalização, racismo e misoginia, aumentando as tensões e exacerbando os conflitos. “Na Etiópia, com a escalada dos combates, houve um aumento alarmante de postagens nas mídias sociais espalhando retórica inflamatória, com algumas chegando a incitar a violência étnica”, lembrou a alto funcionária da ONU. “Também sabemos que a desinformação pode prejudicar a capacidade de nossas missões de implementar seus mandatos, exacerbando falsidades e alimentando a polarização”.

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