O ESTADO DE S.PAULO – 25/10/2018

O presidente Donald Trump disse que o herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, tem responsabilidade final pela morte do jornalista Jamal Khashoggi.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse ontem que o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, tem a responsabilidade final pela operação que levou ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. A declaração colocou mais pressão sobre o governo saudita, importante aliado dos americanos, em meio a uma condenação global pela morte do dissidente no Consulado da Arábia Saudita em Istambul.

A declaração de Trump foi publicada pelo Wall Street Journal. O presidente disse querer acreditar no príncipe herdeiro, que garante que funcionários agindo sem o seu conhecimento foram responsáveis pela morte do jornalista dentro do consulado saudita, no dia 2. Trump, porém, sugeriu pela primeira vez que a responsabilidade pode chegar a níveis mais altos. “O príncipe está administrando as coisas por lá. Então, se fosse qualquer pessoa (responsável), seria ele.”

A morte de Khashoggi, que vivia nos EUA, tem provocado uma reação global e colocado em risco as relações entre Riad e Washington, assim como o relacionamento da Arábia Saudita com outras nações do Ocidente.

A declaração de Trump foi publicada horas antes de o príncipe comparecer a uma conferência de negócios em Riad, onde falou publicamente sobre o caso pela primeira vez. Ele descreveu a morte do jornalista como um “incidente hediondo” e afirmou que a “justiça prevalecerá”.

Depois de negar a morte de Khashoggi, o governo saudita, sob crescente pressão internacional, apresentou várias versões, incluindo uma “briga” que terminou mal e uma operação “não autorizada”, sobre a qual o príncipe herdeiro, considerado o homem forte do reino, não fora informado.

No entanto, as explicações sauditas não convenceram. Céticos, vários governos ocidentais exigiram uma investigação “crível e transparente”. “O incidente é muito doloroso para todos os sauditas. É um incidente hediondo e totalmente injustificável”, declarou Salman, de 33 anos, em sua primeira intervenção pública desde o assassinato do jornalista, descrito como “assassinato político” pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

“Muitos estão tentando explorar o caso Khashoggi para criar um antagonismo entre Arábia Saudita e Turquia, mas eles não terão sucesso”, acrescentou o príncipe herdeiro, que conversou por telefone ontem com Erdogan.

A imprensa turca publicou detalhes macabros do assassinato do jornalista saudita, que colaborava com o jornal americano Washington Post. Mas, enquanto os meios de comunicação e as autoridades turcas apontaram o envolvimento de Salman no crime, Erdogan não o acusou diretamente. Os sauditas anunciaram prisões e demissões e garantiu que todos os envolvidos no assassinato serão responsabilizados.

Buscas. Na Turquia, a agência de notícias estatal Anadolu afirmou ontem que as autoridades sauditas não permitiram que investigadores turcos inspecionassem um poço localizado no jardim da o Consulado da Arábia Saudita em Istambul. Autoridades turcas ainda procuram o corpo do jornalista assassinado.

Na terça-feira, a emissora britânica Sky News, citando fontes da polícia turca, afirmou que partes de um cadáver haviam sido encontradas na casa do cônsul saudita. A notícia, no entanto, não foi confirmada por autoridades da Turquia.