Desde o começo de outubro, a revista piauí passou a ser gerida pelo Instituto Artigo 220, uma associação civil sem fins lucrativos criada com “o único propósito de respaldar o jornalismo rigoroso, independente e apartidário”. Neste modelo até então inédito no Brasil, a publicação deixa de ter um dono e passa a existir, em parte, com recursos doados ao instituto, em uma formatação semelhante ao jornal inglês The Guardian. A revista, entretanto, segue como uma operação comercial, mas agora ainda mais autônoma editorialmente.

Segundo o empresário e documentarista João Moreira Salles, fundador da publicação, a piauí terá receitas oriundas do fundo patrimonial do instituto – este sim, sem fins lucrativos – “somado às receitas geradas regularmente pelas assinaturas, pela venda em banca e pelos anúncios”. Salles afirma ainda que a revista dispõe das condições materiais para seguir trabalhando no seu ritmo – editando a publicação mensal, criando conteúdos diários online, produzindo podcasts.

O Instituto Artigo 220 – trecho da Constituição que consagra a liberdade de imprensa como mandamento constitucional –, explica a Folha de S.Paulo, vai controlar um fundo patrimonial, constituído a partir de uma doação do próprio Salles, de R$ 350 milhões. O valor anual para a revista deverá ficar na faixa de R$ 10 milhões ou R$ 12 milhões.

Na prática, a piauí é a primeira publicação no Brasil que deixa de ter um publisher. No lugar dele, entra em campo um conselho editorial, formado majoritariamente por jornalistas, que terão plenos poderes de ditar todos os rumos da piauí daqui para frente. “A revista tem compromisso apenas com seus leitores, com seus profissionais, com o seu Conselho Editorial e, em termos amplos, com o bom jornalismo”, diz Salles.

De acordo com a Folha de S.Paulo, André Petry, diretor de redação da piauí desde fevereiro de 2020, fará reuniões com o conselho do instituto, mas como organismo independente. O conselho editorial terá, além de Salles, Dorrit Harazim, Flavia Lima, Marcelo Medeiros, Natuza Nery, Simon Romero e Thiago Amparo.