Esta é a síntese do que foi debatido no painel “Liberdade de imprensa: onde estamos e para onde vamos”, realizado hoje pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) dentro da programação de entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2022, que homenageou a advogada Taís Gasparian e o Instituto Tornavoz.

Participaram do painel a própria Taís e os jornalistas Patrícia Campos Mello, repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo, Marcelo Godoy, repórter especial e colunista de O Estado de S.Paulo, e Renato Andrade, diretor da sucursal de O Globo em São Paulo. O debate foi moderado por Ricardo Gandour, professor de jornalismo da ESPM/SP.

No painel, Taís defendeu a necessidade de descriminalizar os crimes contra a honra, de calúnia, injúria e difamação. Segundo ela, é preciso esses crimes sejam retirados do código penal brasileiro. “O ideal é que isso resulte apenas em uma responsabilização civil e jamais como um meio de levar jornalistas para a cadeia”, disse. Ela também destacou que os juizados especiais não podem mais ser utilizados para ações contra jornalistas. Este é um tema que está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Patrícia Campos Mello afirmou que é muito difícil produzir jornalismo investigativo de forma profissional, observando as técnicas jornalísticas, e enfrentar, ao mesmo tempo, assédio judicial e violências físicas e virtuais. Segundo ela, há duas frentes básicas de ataques: censura pelo barulho via desinformação, que leva as pessoas a não saberem mais o que é verdade; e a intimidação de jornalistas, sobretudo as mulheres. “O que eles querem é que você pare de reportar. Não podemos parar”, afirmou a jornalista.

Marcelo Godoy disse que, hoje, aqueles que atacam o jornalismo procuram estabelecer jornalistas e seus trabalhos como parte de uma guerra, o que facilita a tentativa de descredibilizar a imprensa. “Há um pensamento que transforma a política, que deveria buscar o bem comum, em algo que aparelha guerreiros ideológicos, com mentiras e desinformação, para que o jornalismo não seja mais visto como observador dos fatos. Daí a importância das agências de verificação de fatos. A gente deve informar”.

Renato Andrade ressaltou que para enfrentar o atual cenário, hostil ao jornalismo, o melhor antídoto é qualificar ainda mais o trabalho feito por repórteres e editores. “A primeira coisa que estamos fazendo é mais jornalismo. Decidimos elevar ainda mais a nossa barra de qualidade e de cuidado ao publicar. Jornalismo cuidadoso e meticuloso reduz a chance de processos judiciais”, afirmou. “Não é apenas no jornalismo investigativo, mas nas tarefas mais simples”, completou.

Ricardo Gandour frisou que a atitude jornalística é mais relevante se ela for sustentada por um sentimento de coragem. “E a defesa dos jornalistas aumenta nossa coragem, mas também nossa responsabilidade. Excelente contar com o Tornavoz, que alimenta coragem e sustentam a atitude jornalística”.